Publicado em 20 de jul de 2017 por Artur Batista

De vez em quando aparece um livro que nos faz largar todas as nossas leituras atuais: tamanha é a curiosidade e o interesse que ele nos desperta. Cegos pela nova aventura de várias e várias páginas à nossa frente, nos deixamos cair em tentação e mergulhar naquele novo universo, que nos trará diversão e aquela velha conhecida vontade de querer mais ao final da leitura. Mas temo que não seja o caso de A Rainha Vermelha.

Nesse primeiro romance de Victoria Aveyard, nos é apresentada a história de Mare Barrow, uma garota da pequena cidade de Palafitas, uma das muitas do vasto país Norta. Este se resume em um mundo dividido entre “vermelhos” e “prateados”. Vermelhos são seres humanos sem nenhum tipo de poder ou habilidade, cujo sangue é tão vermelho quanto a aurora. Prateados são seres – humanos [?] – mais evoluídos, com poderes tão sublimes quanto seu prazer em usá-los. E, sim, em suas veias corre sangue prata.

Mare é vermelha. Sua pobreza e simplicidade podem ser vistas nos trapos que usa para sair pelas ruas de Palafitas furtando qualquer objeto de valor que possa dar à sua casa um pouco de comida ou até um punhado de energia elétrica. Sua família é composta por seus pais, sua irmã, Gisa, e seus três irmãos, Bree, Tramy e Shade, que foram obrigados a lutar numa grande e sanguinária guerra. Por um tiro do destino, seu melhor amigo, Kilorn, se vê repentinamente obrigado a também fazer parte do exército. Não disposta a perdê-lo, Mare procura ajuda e acaba sendo apresentada a uma pessoa bastante peculiar: Farley, líder da Guarda Escarlate, um grupo de rebeldes vermelhos dispostos a qualquer coisa para acabar com a supremacia prateada. Farley se dispõe a ajudar Kilorn, mas exige de Mare um preço monetário extremamente alto.

A fim de furtar tanto quanto puder para salvar o amigo, Mare sai pelas ruas enlameadas de Palafitas avançando nos bolsos de prateados distraídos ou bêbados demais para notá-la. Nesses pequenos furtos, quase a ponto de voltar para casa, a garota se depara com Cal, um prateado misterioso que, num primeiro momento, parece tão frio e arrogante quanto seus semelhantes, mas que depois se mostra alguém com a mente aberta a mudanças, embora não saiba como fazê-las acontecer.


Cal se compadece de Mare, fazendo com que a garota passe a trabalhar no palácio da família real. E é aí que toda a história começa a ganhar forma: Mare chega ao palácio justo no dia em que ocorrerá um evento onde garotas das Casas mais importante do país apresentarão suas habilidades num grande espetáculo, com o intuito de impressionar o príncipe e sua família. A que melhor se sair, ganha o privilégio de se casar com o príncipe e se tornar a próxima rainha. Num momento de pouca sorte, nossa garota vermelha acaba “caindo” na arena onde ocorre o “show de poder” e descobre que possui a habilidade de controlar energia. E, melhor ainda, de criá-la.

Para não fortalecer a confiança dos vermelhos na rebelião da Guarda, a família real trama todo um plano para esconder a verdadeira identidade de Mare, fazendo com que a menina abandone sua vida e seus parentes em Palafitas e parta rumo à capital, Archeon, tornando-se Mareena, uma órfã prateada. Lá, Mare aprende da forma mais árdua que nunca se deve confiar em ninguém, e que o preço de uma grande mudança, muitas vezes, é o rompimento dos laços que unem suas próprias crenças.

É sempre interessante quando um autor se submete à vontade de pôr em sua obra elementos de outras histórias, de outras realidades literárias. Nesse livro, Victoria Aveyard mostrou, por exemplo, o quanto é fã de Stan Lee, ao usar em seus personagens várias das habilidades dos tão conhecidos X-Men ou de muitos outros heróis do quadrinista. Também não pude deixar de perceber as semelhanças entre Mare e Gisa com Arya e Sansa, de Game of Thrones, respectivamente, tanto pela caracterização física das personagens como pelos modos de pensar e agir. Como Victoria é fã assumida da aclamada saga de George R. R. Martin, não me admiraria se tais semelhanças fossem propositais. Que bom gosto ela tem, não é mesmo?

Não me entenda mal: o livro não é ruim. Mas é impossível não perceber sinais tão parecidos sem pensar em como isso afeta a originalidade que muitas vezes buscamos em cada livro novo que lemos.

Foi muito boa a forma como Victoria nos apresentou Mare: uma garota que não faz questão de seguir regras nem de se prender a ninguém. Livre. Destemida. Corajosa. Capaz de qualquer coisa para manter a salvo as pessoas que ama. Mas depois… Bem, isso parece acabar. A moça fica em um triângulo amoroso – algo nada clichê, hein? — tão estranho quanto forçado. Deixa de ser a garota confiante do início do livro para se tornar um tanto medrosa, frágil e ingênua. Acima de tudo, ingênua. É como se a autora tivesse mirado em Katniss Everdeen e acertado em Bella Swan.

Acredito que isso possa mudar nos próximos livros da série, que já está em seu terceiro volume. E então, talvez, nossa escarlate garota enfim possa se tornar a heroína que sua criadora tanto deseja nos mostrar.

 

 

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