Publicado em 15 de ago de 2016 por Tarcio Matos

Em março deste ano testemunhamos o que foi um dos maiores embates do cinema contemporâneo. E não, eu não estou me referindo a Batman Vs Superman e sim a “batalha” (em termos atuais, a famigerada treta) do público geek com a crítica especializada.

De um lado os fãs do gênero, pessoas que esperaram anos para ver a batalha em live action. Do outro profissionais (sim, crítico é uma profissão) que, muito provavelmente, pouco se importavam com quantos anos alguém esperou pelo filme.

Um crítico, de forma geral, não leva em consideração na análise à expectativa do público, exatamente porque não é este seu trabalho. O objetivo desse profissional é avaliar o conteúdo produzido: o que está sendo retratado e como é comunicado.

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É extremamente óbvio que o crítico transmite a sua avaliação do produto, motivo este pelo qual a crítica nunca é unânime. Mas convencionou-se acreditar que a avaliação crítica deste profissional nada mais é que uma opinião, desmerecendo desta forma a profissão.

Veja bem, um crítico especializado transmite algo muito além do que chamamos de opinião. É uma avaliação crítica, baseada em anos de estudo (sim, o crítico tem de estudar muito) e esforço. O que o crítico analisa não é seu gosto pessoal e sim as características qualitativas do produto.

É claro que nesse momento alguém pode comentar “gosto não se discute”, o que é uma verdade absoluta. Mas analisar roteiro, edição, profundidade de personagem, coreografia de luta, fotografia, atuação e outros fatores, nunca fez parte de julgar gosto e sim qualidade.

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Alguns podem afirmar também que se levássemos sempre a “opinião” da crítica o mundo estaria condenado a O resgate do Soldado Ryan, O Artista e filmes definidos como Cult. Mas em momento algum foi dito que você só pode gostar de um filme apreciado pela crítica. É possível continuar gostando de um filme depois de encontrar falhas.

Nenhum crítico que se preze vai dizer ao público “está terminantemente proibido gostar desse filme”. O crítico vai avaliar o material produzido, mas em momento algum vai impor que alguém ame ou odeie aquilo. Avaliação da qualidade de um filme não significa imposição de gosto e sim uma análise sobre o que foi produzido.

Vivemos isso com o recente Esquadrão Suicida, onde aparentemente a avaliação da crítica se tornou uma mera opinião, um simples gosto pessoal. O trabalho do profissional passou a ser algo “comprado” ou “sem valor”. É no mínimo conveniente que isso só aconteça quando os profissionais atribuam notas baixas as certas produções, afinal muitos fãs sempre amaram expor as excelentes médias de Batman: O Cavaleiro das Trevas, por exemplo.

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A importância da crítica parece aumentar ou diminuir dependendo da nota que atribui a determinado produto. A mesma situação aconteceu com as avaliações de Caça Fantasmas (2016). De repente a crítica de nada entendia por ter elogiado, ainda que mediamente, o filme tão odiado pelo público.

Outros poderiam dizer que a crítica tem uma “birra” com os filmes da DC Comics, o que é no mínimo estranho, afinal os mesmo elogiaram muito a trilogia Batman do diretor Christopher Nolan. A crítica também atribuiu notas baixas a outros diversos filmes amados pelo público, como Homem de Ferro 3, Minions, Transformers e Piratas do Caribe. Ninguém ficou proibido de gostar desses filmes porque profissionais apontaram falhas nos mesmos.

Também poderiam argumentar que o crítico “vê demais o lado ruim do filme”, o que é uma utopia. Crítica vem do grego krinein, que quer dizer “separar para distinguir”. O que quer dizer que este profissional não escolhe ver apenas qualidades ou defeitos, o bom crítico coloca tudo numa balança, afim de ver o que pesa mais.

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Já li alguns justificando a diminuição desse profissional afirmando que “muitas pessoas trabalharam nesse filme, o cara não leva isso em conta” ou “criticar é fácil, quero ver fazer melhor”. Como disse anteriormente, o trabalho do crítico é analisar o material final e não fatores externos a ele, exatamente por isso que ele não leva em conta se 2 mil pessoas trabalharam para tal coisa e sim o trabalho final produzido por elas. É também uma ilusão acreditar que só porque um crítico não produz um material que ele não tem capacidade para julgar.

Vamos entender de uma vez por todas que crítico especializado é uma profissão, tal qual diretor, roteirista e ator. Dizer que a análise desse profissional é “comprada”, “sem valor” ou “desnecessária” é desvalorizar sua profissão. É desvalorizar anos de estudo de uma pessoa simplesmente porque ela falou mal de algo que você gosta, e bem, isso beira o jardim de infância.

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