Overview
Quando os jogos de sexo do marido correm mal, Jessie, algemada a uma cama numa remota casa num lago, enfrenta visões alucinantes, segredos negros e uma escolha terrível.
Basicamente com um cenário e quatro atores, o roteiro de Jogo Perigoso (Gerald’s Game) é esperto ao não ser um suspense convencional: ele se destaca justamente ao se aprofundar nos traumas de Jessie, externalizando seus fantasmas – medos e desejos. Nem por ser um filme de personagem ele se torna cansativo, com diálogos muito cínicos, alternando a história entre o momento atual e o passado. O filme se foca na busca pela sobrevivência nos menores detalhes, e assim o simples ato de pegar um copo de água mal-posicionado ganha uma importância gigantesca.

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Feito pela Netflix, Jogo Perigoso abraça o gore do livro homônimo de Stephen King, com várias cenas que fazem o espectador se revirar na poltrona, e com o último ato do filme com uma cena particular de violência explicita, quase impossível de assistir.
Garla Gugino (Jessie) está ótima: ela carrega o filme nas costas e exibe o talento que raramente é capaz de mostrar. O espectador entra em sintonia com Jessie nos momentos certos – pânico, tristeza, medo, humor ácido e muita agonia, tudo na dose certa. Ela atua durante quase o filme inteiro com o corpo preso e debilitada, e ainda assim consegue dar uma das melhores (talvez a melhor) atuações de sua carreira.
A direção de Mike Flanagen é de novo destaque por fazer o máximo com o mínimo. Assim como em Hush: a morte ouve e Oculus, ele trabalha com poucos personagens e com pouquíssimos recursos, sem a extravagância que muitos diretores buscam, mas conseguindo prender o espectador com facilidade. Flanagan trata as cenas mais violentas do longa sem parecer desnecessário; apesar de muitas cenas explícitas, ele consegue dar a elas um senso de “importância” que nos une mais à Jessie, pois essas cenas ferem tanto o espectador quanto ela.
O final, porém, é das coisas mais brochantes: ao seguir o livro sem fazer edições necessárias, o filme se prolonga demais e tem um final que não conversa com o tom sombrio do resto da trama. Esse desfecho (que acaba sendo só um fan-service) impede o espectador de digerir aquela obra por mais tempo, e perde a oportunidade de acabar vinte minutos mais cedo.