Publicado em 10 de ago de 2022 por Mayara Armstrong

Ficção de Sérgio de Carvalho aborda a vida na Amazônia urbana transformada pela mudança das rotas de tráfico.

Apesar de sua longa tradição na produção de audiovisual, desde os anos de 1970, em Super-8, e posteriormente, em VHS, o cinema do Acre era, basicamente, feito para consumo local. Até agora! NOITES ALIENÍGENAS será o primeiro longa do estado a estrear em cinemas, mas, antes disso, terá sua première nacional na Mostra Competitiva do Festival de Gramado, com sessão no próximo domingo (14). Com produção da Saci Filmes, traz no elenco traz Chico Diaz, Gabriel Knoxx, Adalino, Gleici Damasceno, entre outros. A distribuição é da Vitrine Filmes.

Dirigido por Sérgio de Carvalho, o filme parte de seu livro homônimo, de 2011, e retrata o lado urbano da capital do estado, Rio Branco, por meio de uma história de personagens cujas vidas são marcadas pela mudança da rota do tráfico que começa a passar pela região. Com roteiro assinado pelo cineasta, em parceria com Camilo Cavalcante e Rodolfo Minari, o longa atualiza o romance.

Aquela periferia de Rio Branco já era completamente diferente porque, nesse meio tempo, chegaram as facções do Sudeste do Brasil. A realidade se transformou completamente. O Acre hoje é muito mais violento. A gente começou a viver situações que só nas cidades grandes que a gente vias no Rio e São Paulo. Não tinha como transportar para um com um cenário contemporâneo e não trazer também esse tema”, explica o cineasta.

O diretor também destaca que sua ficção de estreia aborda questões extremamente contemporâneas, especialmente aquelas ligadas à Amazônia urbana, da qual se fala muito pouco, especialmente no cinema. “O filme ele fala de um Brasil bélico, de um Brasil que se arma, de um Brasil que cada vez mais se torna violento e violência de todos, em todos os sentidos. A violência contra a juventude. A violência contra indígenas.”

Ao contar a história, em NOITES ALIENÍGENAS, de um menino que se recusa a matar, Sérgio explora um Brasil em transformação. “O filme, de certa maneira, ele reflete esse momento que vivemos. E também trata das questões de identidade, que o Brasil vive hoje, de reafirmação de suas culturas originárias, de seus povos tradicionais. Fala também de uma juventude que está aí nas periferias, sendo resistência a tanta coisa e vítima de tanta coisa ao mesmo tempo.”

Fazer a primeira sessão do filme no país em Gramado é para Sérgio uma honra e uma responsabilidade em representar o estado no Festival. Nascido no Rio, o cineasta está radicado no Acre há quase 20 anos. “É esse marco no audiovisual do estado do Acre, e com a certeza, também, de que ele só está acontecendo por conta de políticas públicas pensadas para descentralização do audiovisual, que possibilitaram que o Norte, a Amazônia, produzisse cada vez mais.”

A oportunidade para se fazer NOITES ALIENÍGENAS veio com o último edital para longa de Baixo Orçamento do extinto Ministério da Cultura. “Nos últimos anos a Amazônia nunca produziu tanto audiovisual como produz hoje. Eu acho que o meu filme é fruto dessas políticas públicas e fruto desse movimento que se intensificou graças às cotas pra região Norte. Há os editais com esse olhar para a região Norte do Brasil. É uma pena que essas políticas públicas, com esse olhar de descentralização, se enfraqueceu muito nos últimos quatro anos e quase que interrompendo aí uma cadeia que vem que vinha se consolidando.”

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