Publicado em 20 de jul de 2023 por Kauana Amine

O filme considerado como o mais aguardado do ano fez esgotar o estoque de tintas rosas do mundo e quebrou recordes antes mesmo da sua estreia. Por um lado, há pessoas questionando o hype dele, e por outro, há pessoas que estão aguardando ansiosamente e já separaram o look para assistir. 

Afinal, o que explica o fenômeno ‘filme da Barbie’? Ele é tudo isso mesmo? Nossa equipe assistiu, e nesta coluna vamos contextualizar alguns pontos bem importantes. Mas, cuidado que contém spoilers. Se você quiser conferir a crítica sem spoiler, clique aqui

Nostalgia e pertencimento

A  primeira versão da Barbie foi lançada em 1959. Desde então, ela atravessou gerações e fez parte de muitas vidas. Diversas pessoas relembram com carinho suas memórias de momentos em que brincavam com Barbies e até projetavam seus sonhos nessas brincadeiras. Enquanto realizações do “mundo real” pareciam distantes, era suficiente ter o carro da Barbie, a casa da Barbie, roupas para a Barbie, a Barbie da profissão com a qual se identificava, enfim, cada pessoa construía a própria narrativa com o que tinha. E cada trajetória era única.

O primeiro live action de Barbie gerou expectativa e fez com que muitas pessoas relembrassem essas memórias, no mundo todo. Acredito que o hype começa aí. Além da curiosidade natural de “como será que ficará o live action da Barbie”, existe o desejo de acessar sentimentos nostálgicos, que muitas vezes podem trazer conforto emocional e senso de pertencimento. 

No filme, a “Barbie Estereotipada”, interpretada por Margot Robbie, tem a vida perfeita na Barbielândia, mas entra em uma crise existencial e precisa fazer uma viagem para encontrar as pessoas que brincam com ela na “Vida real” e resolver essa crise existencial. Neste cenário, somos apresentados para Gloria (America Ferrera) e Sasha (Ariana Greenblatt), mãe e filha que construíram diversas memórias com as bonecas. Elas são a representação dessas pessoas que, assim como elas, tiveram Barbies ao longo da sua vida. 

Outro paralelo pode ser feito com a “Barbie Estranha”, interpretada por Kate Mckinnon. Ela representa aquela Barbie com cabelos cortados e pinturas pelo rosto, algo que não é incomum de crianças fazerem em todos os tipos de bonecas. Na vida real, quantas crianças brincaram tanto com suas Barbies, a ponto de modificá-las? A “Barbie Estranha” traz essa representação e pode acessar memórias em quem já fez isso.

Muitas pessoas não querem ficar de fora, e marcas também não, seja pelo lucro ou pela identificação. Barbie  teve um orçamento de US $ 145 milhões e investiu pesadíssimo no Marketing. Os recordes que bateu são a prova de que já deu certo. Segundo a Mattel, mais de 100 marcas entraram no Hype e participaram do pré-lançamento do filme.

As redes sociais nunca foram tão rosas como nos últimos tempos. Nelas, o sentimento de nostalgia e a vontade de pertencer também foi demonstrado em diversas publicações. É comum “rolar o feed” e se deparar com receitas de bebidas ou comidas cor de rosa e looks inspirados na Barbie. A palavra Barbie nos trends diariamente, as sessões e produtos licenciados esgotados antes da estreia e a expectativa do público trazem uma certeza: as pessoas querem fazer parte deste momento.

Ressignificação e crítica social

Se por um lado a Barbie foi conhecida durante anos como sinônimo de pressão estética e, por outro, como sinônimo de empoderamento, o filme abraça os dois. Não teria como abordar alguns temas que o filme se propõe se não assumisse a responsabilidade que a “Barbie estereotipada” tem na pressão estética e “busca pela perfeição” na sociedade. Telespectadores aguardavam como o filme abordaria essas questões, e o filme faz uma autocrítica sobre e tenta ressignificá-las, principalmente com humor.

Barbie traz assuntos como o patriarcado, o feminismo e a sororidade. Enquanto na Barbielândia as Barbies são poderosas, na “Vida Real” são os homens. Inclusive, na representação da Mattel no filme também é uma equipe de homens que domina.

Tão irônico quanto real é o fato de muitas empresas serem dominadas por homens, mas fazer produtos para mulheres. Aí entra a importância da verdadeira representatividade dentro das empresas, e não apenas um discurso de faixada. Afinal, como compreender as dores de um público se você não as sente? Empatia é importante, mas não é suficiente. E o longa cutuca nessa ferida também.

O filme faz paralelos do mundo real com o mundo perfeito da Barbielândia e tenta trazer diversidade ao apresentar as diversas Barbies e Kens, com etnias, profissões e contextos diversos. Porém, ainda não sai do “padrão magra”, pois diversidade de tamanho de corpos é mínima. Há representações e diversidade, mas ela fica como um pano de fundo.

Barbie também traz reflexões feitas pela personagem, interpretada por Margot Robbie, que está buscando se encontrar. Frases como “Quero mostrar minhas ideias e não ser um produto”, “Quero descobrir quem sou no mundo”, “Não me sinto suficientemente boa em nada”, são reflexos do fenômeno de impostora que mulheres sofrem diariamente pelo acumulo de funções e falta de reconhecimento em diversas áreas.

O filme supera as expectativas e mostra por que é o filme mais aguardado do ano. Barbie assume o seu passado em todas as suas facetas, desde a criação da boneca (o que traz algumas das cenas mais bonitas do filme), sua história até o presente e deixa uma mensagem para o futuro: o mundo real pode não ser perfeito, mas ele sempre pode melhorar. A Barbie é um exemplo disso.

5/5 - (5 votes)

Comentários

Este artigo não possui comentários
”Mulher