Overview
Em 1963, durante o auge da Guerra Fria, Elisa (Sally Hawkins), uma solitária empregada de limpeza muda que trabalha num laboratório governamental, vê a sua vida mudar para sempre quando, com a sua colega Zelda (Otavia Spencer), descobre o resultado de uma experiência ultrasecreta: um estranho ser aquático que vive num tanque.
Guillermo Del Toro mais uma vez surpreende e nos explica – sem ao menos dizer uma palavra – o motivo de A Forma da Água estar sendo tão reconhecido – ganhador do Festival de Veneza 2017 e o lider em indicações do Oscar 2018. Sua fixação e excelente desenvolvimento de monstros, o faz retornar com mais um filme tocante, intenso, cheio de metáforas e filosofias.
Sensibilidade e ousadia, são as caracteristicas marcantes da protagonista Elisa, vivida por Sally Hawkins. Elisa, uma faixineira muda, vive seus dias de forma rotineira. Ela trabalha em um labotarório secreto dos Estados Unidos, onde experiencias – provavelmente ilegais – acontecem. Em meio a guerra, os militantes e cientistas estão procurando formas que auxiliem na vitória do pais. Dentre as possibilidades encontradas, eles começam a fazer experiementos com um anfibifio capturado, que está sendo mantido em cativeiro. Uma figura diferente do padrão. Um ser vivo, que usa da lingaguem corporal para se expressar. Um ser vivo que permanece sozinho. Solitário. Alguém que sangra se o ferem.
Gradativamente, Elisa conhece a criatura aquatica, e logo se identifica com a situação presenciada, passando a não condizer com a violação de direitos exposta diante de seus olhos. Assim, decide ajuda-lo a não ser morto pelo militar que o trouxe, Strickland (Michael Shannon). Strickland todo dia tortura a criatura por um unico motivo aparente: Ele pode – extrema direita tentando achar maneiras de combater os comunistas russos. E é assim que o abuso de autoridade é representada no filme. Até que ponto vale sacrificar uma vida por um ideal? O outro é violento comigo ou está apenas reagindo as minhas atitudes contra ele? Como o oprimido vira agressor por reagir a opressão vivenciada?
Quem consideramos o monstro da história? O anfibio aquatico mantido em cativeiro? O militar violento regado de ódio cego? – Associação de fácil entendimento para o telespectador
O filme é genuinamente visual – Ou: sentido. Literalmente –, há delicadas meclas de cenas obscuras e frias ao mesmo tempo que empáticas e humanizadas. A fotografia é firme e pesada, com cores vivas, e muita água fluindo. Água definitivamente é o elemento que rege o filme. Tudo isso com direto a cenas de nudes explicita, masturbação, gargantas rasgadas e dedos decepados.
A presença do conto de fadas incomum, como típico do direitor, surpreendentemente não é o que torna a produção tão carregado visual e afetivamente. É toda sua essencia. É cada minimo detalhe. É a torta de limão da padaria. É o pequeno ovo cozido. É o narrador abrindo o conto com “O que posso dizer sobre ela?“, referindo-se a Elisa. Outro detalhe importante: O filme não precisa de falas – fazendo referência a ambos protagonistas mudos. Del Toro trabalha com as imagens. Com as cores. A fotografia. Trilha sonora – essa com direito a Carmem Miranda -, jogo de cameras. Com relação e coração – inumeras referencias aos séculos passados.
Humanização, sensibilidade e ousadia, são as caracteristicas fortes do filme. Além, é claro, do protagonismo dos personagens principais: Elisa, a faixineira muda; Seu melhor amigo e vizinho Giles (Richard Jenkins), um senhor homoafetivo; e Zelda (Octavia Spencer), personagem negra e companheira de trabalho de Elisa. Pode não parecer um grande diferencial se pensarmos atualmente, porém, para os anos 60, durante a Guerra Fria, com constante resistencia da luta pelos direitos civis, falar de visibilidade de pessoas destoentes do padrão normativo, é, sem dúvidas, algo essencial de se considerar.
Ao olharmos para a água, vemos nós mesmos refletidos, fazendo referencia ao nome do filme. A forma da água. Você pode pensar que seria o anfibio. E é. Mas, o que ele representa? Quando cada personagem olha para o anfibio – seja direta ou indiretamente – percebe o reflexo da água. A forma que ela cria. Aos olhos de cada um, a água cria uma forma diferente, depende quem a olha. Elisa vê uma pessoa solitária e incapaz de se expressar pela fala oralizada. Giles vê alguém com dificuldades de aceitação perante a sociedade. Zelda vê alguém que é oprimido por ser de outra raça. Já Strickland, espelha sua própria monstruosidade enquanto ser humano.
E o que você vê?
Em uma época de constante discriminação, Del Toro consegue, novamente, fascinar, de forma progressiva, o telespectador (a) que se vê totalmente envolvido com o realismo presente no conto de fadas. A ‘forma’ e a sutileza de seu desenvolvimento transcendem a lógica e o explicavel, tornando A Forma da Agua uma experiência imersiva ludica, altruista, humana e envolvente – para todos os ditos ‘desajustados’. Qual é a sua forma?