Já nos primeiros minutos, somos apresentados a frase “Baseado em Fatos Reais”, e eu não sei vocês, mas eu sempre fico muito mais atenta na produção por saber que ela é real. Coproduzido por Uruguai, Argentina e Brasil, A Teoria dos Vidros Quebrados possui, por si só, um nome interessante – que é explicado ao longo da trama, contextualizado de forma minuciosa com todo o roteiro da obra.

Somos apresentados a Cláudio Tapia (Martín Slipak), um especialista de seguros que está em busca de ascensão profissional. Quando um dos seus colegas se aposenta, Cláudio é transferido para uma cidade do interior para resolver as pendencias da empresa. A ideia é ficar apenas um dia, imaginando sobre a escassez de demanda e em sua esposa grávida sozinha em casa.

Ao chegar na cidade, Tapia se depara com a estranheza dos moradores, esses acostumados com a rotina pacata do local. Ao se ambientar, Cláudio se depara com carros sendo queimados durante a madrugada. À medida que os casos aumentam, os moradores revoltam-se com a seguradora ao exigir rapidez na resolução do caso para que consigam serem ressarcidos logo. Tapia precisa entender o que aconteceu para averiguar as causas, realizar as burocracias de cada caso e garantir que tudo se resolva da melhora forma possível.

Quando penso em um filme coproduzido pelo Uruguai, Argentina e Brasil, no primeiro momento, imagino o quanto essa combinação pode ser inusitada e curiosa – como a grande maioria das produções são apenas de uma nacionalidade. Analisando o contexto, pode ser bem interessante visto que cada país se destaca no audiovisual por características únicas e, claro, a proximidade dos países traz certa similaridade cultural.

As características são bem comuns, na verdade, uma cidade do interior, com poucos habitantes, onde cada um se conhece e sabe mais do outro do que ele mesmo. Os personagens são comuns desenvolvidos de forma icônica, apesar de serem típicas figuras caricatas de cidade do interior, o longa foge de clichês e pontos negativos. Um dos pontos positivos do filme, é justamente as atuações, nada que as destaquem, mas cumprem muito bem seu papel – principalmente do protagonista Cláudio, que precisa ser compreensivo e amigável ao mesmo tempo que está sofrendo pressão dos moradores para ressarcir os danos materiais.

A pressão sofrida por Cláudio vem de todos os lados, dos moradores, do seu chefe e da sua esposa. Enquanto a empresa cobra para investigar a situação e solucionar o caso sem custos para a seguradora, sua mulher o cobra para voltar para casa e acompanhá-la nas sessões do obstetra. Essa agonia, repleta de mistério e indagações é nitidamente visível pelos telespectadores, que se perguntam, em conjunto com Claudio, o que está acontecendo e quem pode ser o culpado.

O maior destaque, sem dúvidas, é a direção de arte, repleta de detalhes minuciosos, cores, texturas e diversos objetos cenográficos que compõem a obra, dando personalidade e contexto para cada cenário. Como seria um hotel de cidade pequena, que mal recebe hospedes? Quais características teriam um grande escritório abandonado? Como se parece uma cidade esquecida pelo mundo?

Mistério misturado com investigação e um toque cômico, A Teoria dos Vidros Quebrados retrata os comportamentos típicos de cidade pequena, trazendo átona reações e crenças culturais presentes em todos os países possíveis. O longa representou o Uruguai no Oscar 2022 e foi o vencedor dos prêmios de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Filme pelo Júri no Festival de Cinema de Gramado em 2021.