Overview
California, 2049. Após os problemas enfrentados com os Nexus 8, uma nova espécie de replicantes é desenvolvida, de forma que seja mais obediente aos humanos. Um deles é K (Ryan Gosling), um blade runner que caça replicantes foragidos para a polícia de Los Angeles. Após encontrar Sapper Morton (Dave Bautista), K descobre um fascinante segredo: a replicante Rachel (Sean Young) teve um filho, mantido em sigilo até então. A possibilidade de que replicantes se reproduzam pode desencadear uma guerra deles com os humanos, o que faz com que a tenente Joshi (Robin Wright), chefe de K, o envie para encontrar e eliminar a criança.
Quando Blade Runner estreou nos cinemas há 35 anos atrás, não obteve uma boa recepção. O estúdio mexeu na visão do Ridley Scott (diretor) para tentar deixar o filme mais convencional. Porém, desde sua concepção, Blade Runner nunca foi pensado para ser de fácil entendimento ou entregar o típico final feliz, afinal, aquela ideia de futuro tem seu propósito. Muitos anos após o lançamento, Blade Runner teve sua qualidade reconhecida pela crítica e público, se tornando um clássico da ficção científica.
Depois de assistir, uma pergunta transcorreu em minha mente: A sequência honrou o antecessor?
Um dos pontos mais fortes é a identidade. Fazer a continuação de um clássico é uma missão extremamente difícil, mas quando o diretor consegue manter a essência do original e dar sua própria visão para a atmosfera, sem precisar copiar o antecessor, é louvável.
Denis Villeneuve não é um dos diretores mais aclamados da atualidade por coincidência, a cada obra que assisto dele percebo sutilezas diferentes de sua visão. Como já foi dito anteriormente, ele criou sua própria atmosfera, mas, além disso, conseguiu criar uma imersão absoluta dentro da tensão que perpassa toda a duração do longa – que, obviamente, é impulsionada pela trilha sonora arrepiante do Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch. Em blockbusters, estamos acostumados a ficar mais impressionados com os atributos visuais, do que debater a forma com que mexeu conosco; porém, este é um filme do Villeneuve. Jamais sairemos sem notar como cada cena foi pensada para refletirmos.
Como já sabemos, artistas como Roger Deakins não precisam do Oscar para obter seu reconhecimento. Um dos maiores diretores de fotografia da história, e, mais uma vez, reforça sua genialidade. A versatilidade de seu trabalho em uma obra dessa escala é assustador, existem diversos cenários extremamente diferentes e ele consegue ir de visuais exagerados à intimistas de formas completamente arrebatadoras.
O roteiro de Hampton Fanches (roteirista do original) e Michael Green é perspicaz e profundo. Ele não foi feito para entregar todas as respostas, e sim, para levantar mais perguntas. Existem batalhas grandiosas acontecendo naquele universo à todo momento, mas nem sempre é necessário abordar as desgraças maiores, enquanto existem batalhas internas acontecendo ao mesmo tempo em cada personagem. O alicerce da história é simples, porém existe uma grande profundidade por trás de cada diálogo, gesto, ou até de cada olhar.
A expansão do universo é extremamente interessante. Somos apresentados à diversos locais e ideias novas, que servem de apoio para a jornada do protagonista e nos ajudam a entender melhor os acontecimentos anteriores. Com essa ampliação geral, a filosofia e críticas sociais de Blade Runner também aumentaram: A procura pela humanidade dentro de cada um, monólogo sobre os muros que nos dividem, preconceitos expostos, a indagação da genuinidade e a busca incansável pela liberdade. É difícil sair da sessão e digerir toda essa carga rapidamente.
Todo o elenco é excelente e cada personagem tem uma função importante dentro da trama; O Ryan Gosling (K) está em uma das suas melhores atuações dos últimos anos, Harrison Ford (Deckard) retorna com uma intensidade sublime e Sylvia Hoeks (Luv) entrega a interpretação mais impressionante.
O Jared Leto (Niander Wallace) está bem em seu papel, porém ele protagonizou a única falha. Em sua primeira aparição há um monólogo expositivo, daquela velha forma vilanesca de contar todos os planos sem nenhum motivo. Isso até afetaria menos se fosse outra obra, no entanto, nesta tudo é levado de forma tão minuciosa que a cena acabou destoando do resto.
Antes de assistir, tenha em mente que o Villeneuve teve uma oportunidade rara de fazer um blockbuster muito longo, com classificação indicativa alta e contemplativo. É diferente de quase tudo que Hollywood produz. Não vá esperando soluções fáceis ou ação desenfreada, porque a proposta não é essa.
Blade Runner 2049 conseguiu a façanha de honrar o seu antecessor. As chances de errar eram enormes, mas com uma equipe experiente e a intenção certa, o resultado foi excepcional.
PS1: Tem uma determinada cena que é impossível não lembrar de Ela (2013).
PS2: Eu imaginava que haveriam algumas referências ao original, mas jamais imaginei uma tão linda como a do final.