Overview
Num mundo futurista os seres humanos convivem em harmonia com os seres fantásticos, como fadas e ogres. Mesmo nesse cenário infrações à lei acontecem e um policia humano (Will Smith) especializado em crimes mágicos é obrigado a trabalhar em conjunto com um orc (Joel Edgerton) para evitar que uma poderosa arma caia nas mãos erradas.
Bright estreia na Netflix com uma promessa arriscada: ser uma mistura de Dia de Treinamento e Senhor dos anéis, uma junção de dois gêneros adorados (o policial e o fantástico), mas o roteiro confuso e raso trás o pior dos dois gêneros.
Nossos protagonistas são o humano Daryl Ward (Will Smith), um policial negro e preconceituoso, que foi baleado por um deslize de seu parceiro e volta à ativa no início do filme, e Nick Jacoby (Joel Edgerton), Orc renegado pela própria raça ao se tornar um policial e que sofre discriminação dos outros policiais. Em uma patrulha, os dois se encontram a elfa Tikka (Lucy Fry), que é perseguida por um grupo elfico que planeja trazer de volta o Lorde das Trevas.
Se isso parece um pouco confuso, é porque realmente é: o filme quer ser uma fantasia épica (conta com seres mágicos, uma profecia, um “escolhido” e tudo mais que tem direito) ao mesmo tempo que quer ser uma crítica social sobre o racismo estadunidense e um filme pipoca com cenas de ação frenéticas. O resultado disso tudo espremidos em duas horas não poderia ser outro: um longa que tenta, mas não consegue alcançar nenhum desses objetivos.
A mitologia não é clara e o expectador não compreende bem o que está acontecendo. Isso promete ser explorado nos próximos filmes, mas só com esse filme, o mundo criado trás mais perguntas que respostas – motivo pelo qual muitos disseram que parecia o piloto de uma série.
Outro ponto e um dos principais problemas do filme e o que mais incomoda o expectador mais atento é a metáfora racial que o filme usa: como outros filmes recentes, Bright faz constantes analogias entre o atrito entre as espécies do filme e o conflito racial estadunidense. Estaria tudo bem, se a metáfora não fosse extremamente mal-feita.
Os orcs (que no filme, simbolizariam a comunidade negra) são marginalizados, têm “clãs”, instintos animalescos e sofriam com as consequências de ter se unido ao Senhor das Trevas. É compreensível onde o roteirista Max Landis queira chegar com essa metáfora, mas mesmo o Jacoby é mostrado repetidamente como estúpido e um wannabe humano – chegando a aparar as presas para se parecer com os colegas humanos.
Nessa bagunça, as personagens do filme também não ajudam: nenhuma delas tem um arco claro (o que torna difícil sentir medo por que qualquer uma delas, já que o espectador não tem nenhuma conexão) e na correria do filme, mal dá tempo de dar personalidade a essas personagens.
Mas nem tudo são espinhos no filme de Ayer: a maquiagem e caracterização são muito bem feitas e convence, assim como os cenários da cidade. As cenas de ação são bem produzidas, mas não parecem encaixar com o resto da história pelo roteiro medíocre.
Fora esses vários deslizes no roteiro, Bright vem como o primeiro de uma sequencia de filmes produzidos pela Netflix e por David Ayer, que prometem explorar melhor e com mais nuances um universo tão promissor. Mas até que os outros filmes saiam e possamos dar uma olhada mais minuciosa nesse mundo, Bright continua sendo um só mais um filme.