Overview
Adonis Creed (Michael B. Jordan) saiu mais forte do que nunca de sua luta contra 'Pretty' Ricky Conlan (Tony Bellew), e segue sua trajetória rumo ao campeonato mundial de boxe, contra toda a desconfiança que acompanha a sombra de seu pai e com o apoio de Rocky (Sylvester Stallone). Sua próxima luta não será tão simples, ele precisa enfrentar um adversário que possui uma forte ligação com o passado de sua família, o que torna tudo ainda mais complexo.
Antes do lançamento do primeiro Creed uma sensação era unânime para os fãs: qual a necessidade disso?! Sim, Rocky Balboa (2006) é até hoje um dos melhores filmes de Stallone e seu icônico personagem, e cumpriu perfeitamente a função de encerrar a saga com chave de ouro. Calando muitas bocas, Creed (2015) conseguiu entrar fácil num top 3 de filmes da franquia, ressuscitando o personagem de Balboa com a certeza de que se fosse bem feito, ele poderia ser eterno. E não se esse presente, como a nossa geração recebeu seu próprio lutador de respeito, que volta agora em um segundo filme trazendo as mesmas dúvidas que tínhamos antes: precisamos mesmo de mais um filme desses?
Além do desafio de ter que se manter à altura do anterior, Creed II carrega outro peso nas costas: como trazer algo de novo e não cair nas repetições das lutas que já tivemos aos longos desses sete filmes? Outro fator para gerar desconfiança: o responsável por acabar com o fim de Rocky, o diretor Ryan Coogler, não voltou para a direção do segundo filme. A direção inspirada de Coogler mas sua criativa amizade com Michael B. Jordan nos brindou com um dos melhores filmes daquele ano, mas mesmo sem dirigir, parece que Coogler se manteve preocupado com o teste de qualidade, e encarregou um diretor que mantivesse sua visão e tom, ‘não deixasse o barco afundar’, e ainda ajudaria a impulsionar a carreira de um outro diretor negro.
Steven Caple Jr. sai vitorioso nessa luta, e esse sangue novo misturado com a experiência de Stallone, que dessa vez escreveu também o roteiro, tenha sido o motivo desse filme respirar bem e trazer novas lições de moral que te impactem como qualquer outro conselho do Rocky que te fez chorar anteriormente.
Essas renovações necessárias se enraízam no roteiro, que transforma uma ‘plot boba’ em algo profundamente dramática de jeito que FUNCIONE. Trazer de volta Ivan Drago, o assassino de Apollo Creed, junto de um filho lutador, para lutar com Adonis, é uma fanfic óbvia e muito clichê, mas talvez pelo espírito de uma boa luta e um bom drama emocional, passa longe de ser forçado.
Se nos anos 80, Ivan Drago era a representação Hollywoodiana do modelo soviético: absolutamente mal, frio e sem emoções, dá espaço para uma reconstrução apropriada para os dias de hoje, não só da forma como os americanos possam ver os russos, mas de como motivações e causas existam para que tal vilão aja daquele jeito. E o serviço de humanizar Drago valoriza ainda mais seu filho Viktor, que apesar da primeira impressão ser apenas um ‘brutamonte’ agressivo, resgata todo um pano de fundo narrativo e emocional, que te faz simpatizar pelo personagem e não simplesmente torcer para que ele leve um nocaute o mais rápido o possível. Vilões com motivações sinceras e críveis, é o conceito que quase nenhuma continuação de filme oitentista sequer tentou aprender, então é uma outra boa conquista.
A dualidade e complexidade de julgar as ações de um personagem também caem em peso com o protagonista, e Adonis está longe de ser um modelo perfeito de heroísmo. Claro, Michael B. Jordan é perfeito, mas o seu Creed vem carregado com uma dose de fragilidade masculina, tons de preconceito e machismo, que não vão te fazer odiar o personagem – relaxe – mas talvez sirva bem nessa proposta de reconstruir os modelos de lutador vitorioso e homem ideal, e é o tipo de conclusões que eu nunca imaginaria que ia ter ao ver o filme pela primeira vez.
As lutas são sempre um recurso narrativo para desenvolver o conflito emocional do personagem (e vice-versa), e a parte da ação te faz vibrar e torcer ao mesmo tempo que o drama vai te arrancar lágrimas – assim como fez comigo. Enxugando as lágrimas e voltando a gritar a cada golpe que Adonis dá em seu oponente, Creed II tem ótimas sequências de luta, e como tradição da franquia, possui também uma excelente montagem de treinamento (aquele momento em que o personagem está fraco, pra baixo, e precisa treinar igual uma máquina para superar todos seus problemas).
Superado o seu problema com a doença que quase ‘nos matou do coração’ no filme anterior, Rocky não corre mais risco de vida, e fixa o lendário lutador como figura paterna e conselheira de Adonis, mas ainda assim, Balboa não cumpre apenas a função de sábio treinador, e desenvolve um acontecimento especial para o personagem diretamente ligado ao seu sexto filme solo.
Com Rocky Treinador, Adonis no ringue, uma trilha sonora impecável, e uma interessante conclusão da luta final, Creed II transformou o auditório Cinemark da CCXP 18 em arena de luta, com cada um vibrando, torcendo, se preocupando com os golpes sofridos, e ao fim, celebrando a vitória que foi poder presenciar mais um bom capítulo da saga, assim como um bom filme, que nos deixou tão empolgados quanto o público torcedor nos cinemas nos anos 70 e 80.
Crítica por: Elvis de Sá do Legado da Marvel