Overview
Em uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata, o governo brasileiro decreta uma medida provisória e provoca uma reação imediata no Congresso Nacional. Os parlamentares aprovam uma medida que obriga os cidadãos negros a se mudar para a África na intenção de retomar as suas origens. A aprovação afeta diretamente a vida do casal formado pela médica Capitú e pelo advogado Antonio, além de seu primo, o jornalista André, que mora com eles no mesmo apartamento.
Um enredo que traz críticas sociais profundas e gera muitas reflexões, assim é Medida Provisória. O primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos traz um elenco de peso, como o ator estrangeiro Alfred Enoch (que participou de Harry Potter e da série How to get away with a murder), Taís Araújo, Seu Jorge, Emicida, Adriana Esteves, Jéssica Ellen, Renata Sorrah, entre outros(as), o que já gera uma forte expectativa sobre a obra.
Inspirado na peça “Namíbia, não!” (que também foi dirigida por Lázaro), o filme traz como um dos temas centrais o racismo estrutural. Ao retratar um futuro distópico (ou nem tão distópico assim, diante do cenário em que estamos vivendo), o Governo Brasileiro decreta uma ‘Medida Provisória’ para reparar o passado escravocrata do país: a medida prevê enviar de volta à África todos os negros brasileiros que assim o desejarem, no intuito de fazer com que se “reconectem com suas raízes”.
O que começa como uma proposta absurda que as pessoas poderiam aderir de forma voluntária, se torna uma ameaça que as pessoas devem aderir de forma obrigatória, fazendo com que muitos tenham que se esconder para não serem pegos e levados à força. Adriana Esteves, que interpreta Isabel, uma funcionária do governo, é uma das principais responsáveis por tentar fazer com que a lei seja cumprida, e depara-se com a sociedade dividida: de um lado, pessoas que apoiam a Medida e tentam ajudar o governo, de outro, a resistência que luta para derrubar essa Medida absurda. Dentre essa resistência está Capitu, uma médica interpretada por Taís Araújo, que namora Antônio, interpretado por Alfred Enoch, e tem como amigo e primo André, interpretado por Seu Jorge. Estes três estão presentes em diversas cenas marcantes do filme.
O filme traz cenas com frases que para muitos podem parecer sutis, mas são veladas pelo racismo (não só frases, como também atitudes e olhares). E traz um exagero cômico que logo se transforma em desespero pela similaridade com a realidade, deixando reflexões como: o que cada um pode fazer na luta antirracista? O que cada um faria em uma situação como essa de Medida Provisória? O que cada um faz diante dos crimes racistas que acontecem em nosso país? Em qual papel estaríamos ali? Da resistência ou de quem se cala e é conivente com discursos de ódio?
Outro ponto que não poderia deixar de destacar é a trilha sonora. Além de Baco Exu do Blues, Liniker, Cartola e Rincon Sapiência, Elza Soares também está eternizada em Medida Provisória, com as músicas “Dura na Queda” e “O Que se Cala”.
Em uma coletiva, Lázaro falou sobre Medida Provisória: “Espero que o público investigue todas as camadas. Não é um filme que traz apenas uma mensagem. Tem micromensagens por todo lado (…) esta é a proposta: ser reflexivo e fazer com que as pessoas se envolvam emocionalmente com o assunto”, acredito que a proposta foi cumprida e que o filme atravessará muitas pessoas e gerações.