Overview
O relacionamento de um casal, é testado quando convidados inesperados chegam em sua casa, interrompendo sua convivência tranquila.
Darren Aronofsky (Requiem for a Dream; Cisne Negro) é um cineasta conhecido por seus filmes complexos e polêmicos, sua característica principal é desenvolver longas psicológicos, forçando o telespectador (a) refletir sobre a vivência exposta em tela, em Mãe! não é diferente: O diretor entrega mais uma obra análoga do gênero que exige muito de você. O filme transmite sensações de estranhamento, demonstram cenas surreais difíceis de digerir ou interpretar, deixando público sem direção ao tentar apreciar a obra, ponto positivo e negativo do filme – ele não foi feito para todos os públicos.
Em Mãe! o diretor nos trás um roteiro simples, desenvolvido de forma inconsistente ao misturar fantasia com realidade (“isso é tão Black Mirror”), é bom no que se propõe, – debater sobre extremismos e demonstrar um futuro muito próximo – porém peca em seu desenvolvimento. O longa conta a história de um casal, vivido por Jennifer Lawrence e Javier Bardem. Ela, uma mulher leal ao seu companheiro, está reformando a casa onde vivem de modo a agrada-lo. Ele, um escritor de poesias, está em busca de inspirações para seus contos. Ambos vivem uma vida calma e tranquila, repleta de banalidades. A estabilidade do casal é abalada quando um médico (Ed Harris) e sua esposa (Michelle Pfeiffer) batem a porta do casal ao confundirem a casa com um hotel. Visando a receptividade, e buscando possibilidades para suas inspirações, o poeta rapidamente acolhe o casal em sua casa, atitude desaprovada por sua esposa.
Acontecimento que desencadeia uma série de fatores, o famoso: Efeito Borboleta. Assim, se inicia dualidade de opiniões frequentes, mostrando, de um lado, um homem narcisista em busca da ascensão social, reconhecimento e sucesso, e, do outro lado, uma mulher, cuja opinião é considerada insignificante, sendo-a, constantemente reprimida em sua própria casa, por todas as figuras que, inconscientemente, e, conscientemente, idolatram – sem auto crítica sobre – a voz masculina – ressaltando a incansável procura pela comodidade.

© 2017 Protozoa Pictures − All right reserved.
O filme é ambientado em um único e totalmente dinâmico cenário, todos seus elementos contribuem para o resultado da obra, seja uma parede branca semi pintada ou objetos de decoração da estante, cada mínimo detalhe possui importância dentro do enredo e na expectativa do público. Aos olhos e sentimentos da mulher, a camêra acompanha a protagonista em uma jornada de raciocínio, mostrando como ela vê, interpreta e lida os acontecimentos a sua volta.
Jennifer Lawrence entrega uma atuação intrigante, à medida que seu marido anseia por prestigio e reconhecimento, tentando perseverantemente repassar uma imagem boa de si perante os outros, ela não entende o motivo de tamanha generosidade – Os outros são mais importantes do que eu?. Consequentemente começam suas indagações, ao mesmo tempo que está receosa por receber pessoas desconhecidas em sua casa e ser ignorada afetivamente pelo marido, não perde sua humanização, sabe quando deve se preocupar ou oferecer ajuda a quem necessita. Sua atuação é contida, humana e empática, há mistos de agonia, drama e muito desespero, tornando-se desconfortavel acompanhar sua trajetória. Com cenas pesadas de se assistir, o filme paira na seguinte questão: Até que ponto sou condizente com as práticas impostas? É algo que me incomoda? Consigo identifica-las? Faço algo para muda-las?
Javier Bardem aparentemente não precisa de muito para vivenciar seu personagem, este, que, ora oscila entre, sedutor e convincente, ora controlador e manipulador. Um dos grandes destaques da atuação vai para Michelle Pfeiffer, sua performance coadjuvante de hospede indesejada e inconveniente é digna de Oscar, a personagem cumpre seu papel: Desagradar e irritabilizar facilmente a protagonista e o público que a assiste.
* A partir daqui, a crítica passa para uma análise mais pessoal e psicológica, elencando indagações superficiais afim de gerar reflexão – Contarei a proposta do filme.

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Darren Aronofsky brinca – novamente – com metáforas e críticas sociais, em “mãe!” a crítica é voltada a religião enquanto doutrinamento/crença negativa onde há perpetuação do machismo e egocentrismo da sociedade, e debate sobre o papel da religião enquanto crença excludente e discriminadora nos dias atuais. As temáticas são inúmeras e polêmicas, pouco exploradas mas que necessitam de atenção, tais como: Objetificação do Corpo Feminimo; Romantização de Relacionamento Abusivo; Violência Explicita contra a Mulher; Machismo; e a própria Religião em si.
Oportunizando indagações como: Se deus é o ser supremo, quem sou eu perto de deus? O que posso – e “tenho” – que fazer para agradar deus? Como a minha devoção cega pode afetar a vida das pessoas a minha volta? Por que vou dar atenção as palavras/sentimentos de uma mulher, enquanto o significativo é o a figura masculina? Por que daria atenção a alguém que ninguém está dando atenção? E por que ninguém está dando atenção?
O homem – tanto na ficção quanto na realidade – precisa constantemente da idolatração da mulher, ao mesmo tempo que não a valoriza enquanto ser humano: O outro só me é significativo quando possui algo de meu interesse?

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Mãe! é um título intrigante para o filme, simboliza uma inversão de papéis: E se deus não fosse representado a partir de uma representação física humana e masculina, e pudesse ser interpretado como uma mulher? Uma mulher que precisasse dar seu único filho para salvar a humanidade. A humanidade, depois de ser salva, agradeceria a mulher ou a discriminaria? Seria endeusada como um homem é ou seria menosprezada, esquecida e “apedrejada em praça pública“?
O filme é bom no que se propoe – gerar reflexão -, porém peca na forma que o faz, demonstrando cenas fortes, com grande carga emocional, podendo-as serem substituídas por cenas mais leves e de fácil compreensão – O que adianta fazer filme complexo se o público alvo dele não irá entende-lo?. Com cenas fortes e totalmente impactantes, Darren Aronofsky reformula sua forma de “entretenimento” – contrária a distração ou diversão –, consegue refletir um dos lados obscuros da sociedade, que muitas pessoas insistem em negar ou esconde-la, não se dando conta que é a partir da falta de imposição que nossos comportamentos se tornam condizentes com as práticas impostas e, que, cada vez mais, estamos caminhando para o extremismo.