Overview
A jovem cantora Ally ascende ao estrelato ao mesmo tempo em que seu parceiro Jackson Maine, um renomado artista de longa carreira, cai no esquecimento devido aos problemas com o álcool. Os momentos opostos nas carreiras acabam por minar o relacionamento amoroso dos dois.
Adaptar um filme clássico nunca foi uma tarefa fácil, e mesmo assim Bradley Cooper ousou; E, duas vezes: Ao estrear na direção e ao (re)adaptar Nasce Uma Estrela para sua quarta versão cinematográfica – 1937, 1954, 1977 e, agora, em 2018. O estreante no cargo substituiu o cineasta Clint Eastwood, inicialmente convocado para a direção. E não, Cooper não decepcionou.
O longa possui um enredo simples, nele conhecemos Ally (Lady Gaga), uma cantora amadora que sonha em ser renomada. Para se manter e nutrindo o desejo da ascensão profissional, Ally trabalha em um restaurante e frequentemente se apresenta em uma casa noturna. Durante uma das apresentações, o astro Jackson Maine (Bradley Cooper) aparece ao local e logo admira o talento da cantora iniciante. Determinado em ajuda-la profissionalmente, Maine se aproxima de Ally acreditando no talento da artista, esta que sempre se demonstra competente.
Conforme se conhecem, Ally descobre que Jackson tem fortes problemas com álcool e outras drogas, fato que não os impediu de se apaixonarem. Apaixonados, ambos decidem apoiar um ao outro. Conforme a visibilidade chega, ela ascende. Ele declina. E o casal percebe que seus problemas são muito maiores que o esperado.
Assim como Cooper estreou na direção, Gaga teve sua estreia atuando cinematograficamente, porém não foi sua primeira experiência como atriz. A cantora foi protagonista da quinta temporada da série norte americana, American Horror Story, interpretando Elizabeth Johnson, A Condessa. Esta atuação concedeu a Gaga o Globo de Ouro de Melhor Atriz, apesar das críticas ao seu desempenho serem medianas. Já em Nasce Uma Estrela, Lady Gaga consolida de vez sua imagem como atriz – e, uma boa atriz. Sua atuação é tão destacável que faz o publico esquecer de sua carreira como cantora, acabando por vivenciar o desenvolvimento da sua personagem – a aprendiz que supera o professor -, desfocando de seu grande renome fora da ficção.
O mesmo acontece com Bradley, surpreendendo em toda cena musical. O publico passa a vê-lo como um cantor, – desde criançinha – tão bom quanto a cantora profissional que contracena ao seu lado. Seu personagem exige muita atuação, por ser um viciado, o ator esta constantemente se expressando pela linguagem corporal – há uma cena em particular onde parece realmente que o ator está totalmente bêbado. Interpretar sóbrio um personagem alcoólatra e conseguir transmitir essa essência não deve ser fácil. É onde entra a atuação dolorosa de Lady Gaga, com sua personagem tentando lidar com as consequências do vicio de Jackson, ao mesmo tempo que lidando com a carreira e a relação com seu pai. É na música que a personagem – e a cantora – se liberta. É na música que a personagem transcende sua alma. É como Jackson reforça: “Talento todos têm. A diferença está em quem tem algo a dizer”. E definitivamente tanto Ally quanto Gaga tem. Não estranhe se a história de Ally possuir muita semelhança com a vida pessoal da cantora – é um destaque proposital.
As cenas musicais são o grande diferencial do longa, sendo todas filmadas ao vivo – sem remixagem/dublagens – trazendo muito mais emoção para o telespectador. As melodias retratam o estado de espírito dos protagonistas, oscilando entre: Ora seres humanos imperfeitos, com inseguranças, medos e recaídas; Ora seres humanos que abrem mão de si para tentar cicatrizar as feridas daqueles que amam. A forma como as relações se constituem no enredo é outro ponto destacável. A persistencia e sobretudo o amor é o que torna esta adaptação diferente das três anteriores – tema necessário em tempos onde o desdém e o ódio aparentam prevalecer.
A harmonia da trilha sonora, e da direção humanizada do Cooper, tornam-se ainda mais apreciadas ao se unir com o trabalho de Matthew Libatique, diretor de fotografia do longa – conhecido por seus grandes trabalhos em Cisne Negro, Numero 23, Réquiem para um Sonho. Como comum em seus filmes, Matthew brinca com as cores e suas tonalidades, acompanhando e retratando as vivências e emoções dos protagonistas – No começo há a utilização de cores e cenários frios, tons constantes derivados do cinza. Após, quando há o começo da ascensão de Ally, as cores acompanham as expectativas da jovem, evoluindo para tons quentes, coloridos e vivos, despertando o sentimento de esperança, de possibilidade. O contraste retorna após o segundo ato do filme, onde o direcionamento da iluminação passa a ser o momento em que ambos estão no palco, com o holofote em si, cantando – Em sintonia, onde Ally realiza seu sonho e Jackson se demonstra renovado profissionalmente.
Além disso, o filme conta com a participação especial de Shangela, uma das participantes mais icônicas do reality musical RuPaul’s Drag Race. Dramático e envolvente, Nasce Uma Estrela promete impressionar em cada detalhe, levar algumas indicações ao Oscar, e aproximar até mesmo quem não é tão fã do gênero musical.