Publicado em 18 de out de 2018 por Mayara Armstrong

O Grande Circo Místico

20181 h 45 min
Overview

Em meio ao universo de uma tradicional família austríaca, que é dona do Grande Circo Knieps, nasceu um improvável romance entre um aristocrata e uma acrobata. Este é o retrato dos 100 anos de existência do Grande Circo e das cinco gerações de uma mesma família que estivem à frente do espetáculo com suas histórias fantásticas.

Metadata
Director Carlos Diegues
Runtime 1 h 45 min
Release Date 22 agosto 2018
IMDb Id tt3096782

Após cinco anos sem lançar uma produção cinematográfica, eis que Cacá Diegues, um dos maiores cineastas brasileiros reconhecido internacionalmente, surge com um novo longa. Apenas pela grande carreira do diretor, a expectativa por seu novo filme estava alta, ainda mais sabendo que idealizou a produção da obra durante dez anos. Já o publico em geral, se atrairá, muito provavelmente, pelo elenco de peso que compõem o longa, incluindo nomes como: Jesuíta Barbosa, Mariana Ximenes, Bruna Linzmeyer, Antônio Fagundes, Juliano Cazarré. Uma pena o filme não se sustentar apenas por seus atores e atrizes.

O poema homônimo do livro A Túnica Inconsútil (1938), de Jorge de Lima, em que o filme é baseado, já inspirou um célebre álbum musical, também de mesmo nome, de Chico Buarque e Edu Lobo. Na história, acompanhamos os 100 anos do Circo Místico através de cinco gerações da família Knieps, pelos olhos de Celavi (Jesuíta Barbosa), o mestre de cerimônias que nunca envelhece. Apresentado pela primeira vez mundialmente no Festival de Cannes (2018), o filme recebeu repercussão mediana na imprensa internacional. E, meses após, estreando pela primeira vez no Brasil durante o Festival de Cinema de Gramado (2018), a produção deixou a desejar.

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A história começa quando Fred (Rafael Lozano), um aristocrata descente de austríacos se apaixona por Beatriz (Bruna Linzmeyer), uma contorcionista. Ela o pede um circo de presente. Ele, querendo agrada-la, compra o Circo para sua amada. Logo ambos descobrem que a moça esta grávida, assim, dando sequência a segunda geração da família. O que era para ser uma herança, acaba se tornando um fardo familiar. Uma espécie de maldição, quando, juntamente com o Circo, adquiriu-se uma onda de violência aparentemente inexplicável, perpetuada através das gerações.

A adaptação do lirismo barroco no enredo não se tornou convincente, perdendo-se quando se uni com uma paleta de cores sem contraste das cenas leves da poesia, com as cenas pesadas da realidade intrínseca. A trilha sonora quebra totalmente o contraste, acabando por banalizar, também, as cenas vivenciadas, fazendo o telespectador se perguntar até que ponto o acontecimento – na maioria das vezes, trágico – é real, ou é apenas embelezado a fim dê parecer aceitável/plausível – há dor nas poesias, entretanto não como retratado no longa. O misticismo presente não foi suficiente para desenvolver a trama do enredo, tornando-se forçado e possuindo boa parte das cenas esquecíveis. Celavi, o personagem místico da trama, se iguala aos demais membros do enredo, não há tempo para nenhum personagem ser realmente desenvolvido, todos são tratados de maneira superficial e estereotipadas – o homem provedor, a devota que se culpa por pecar, marido que acha “possuir” sua mulher, etc.

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São frequentes as cenas de incomodo no telespectador, não há censuras no filme, retratando temas polêmicos – sexo, estupro, incesto, suicídio, auto mutilação, deficiência intelectual severa, objetificação do corpo feminino, entre outras -, sempre respaldadas pelo protagonista principal do longa, o personagem de Jesuíta. Seu nome possui referencia a uma frase francesa, “C’est la vie”, traduzida para “a vida é assim“, tornando-se nítido o recado para o publico – tanto dos horrores do circo, quanto do filme em questão: A banalização da violência e, principalmente, a estagnação no tempo – a vida é assim mesmo, as coisas não vão mudar, fazendo referencia ao personagem que não envelhece, e a cultura machista herdada culturalmente. Repleto de estereótipos, o filme trabalha com contrapostos: Arte x Pudor; Passado x Futuro; Vida x Morte; Violência x Naturalidade. E nos faz refletir sobre o tipo de arte que agrada o publico e por qual motivo há essa fascinação.

O representante brasileiro no Oscar 2019 espelha – infelizmente – muitas crenças atuais. E, pelo mesmo motivo – levando em consideração o cenário atual do pais – o longa teve sua estreia nacional adiada. – onde provavelmente seria considerado politicamente incorreto e iria levantar muita polêmica. Pesado e difícil de digerir, O Grande Circo Místico não foi uma das melhores escolhas para a premiação – muito menos se comparado aos seus concorrentes: Aos Teus Olhos, Benzinho, As Boas Maneiras, Ferrugem, etc. Destacavél apenas em sua fotografia, efeitos visuais e edição, O Grande Circo Místico não é um filme para todos os públicos.

 

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