Overview
Aurélio Sá (Paulo Miklos) é o vocalista de uma banda de punk rock que tem sido sistematicamente perseguido devido à morte de um policial, na qual ele estaria envolvido.
por Kauana Amine, jornalista e pós-graduanda em Cinema.
O Homem Cordial, dirigido por Iberê Carvalho foi o primeiro longa brasileiro apresentado na Mostra Competitiva do 47º Festival de Cinema de Gramado. O filme traz Paulo Miklos interpretando Aurélio Sá, um personagem que tem similaridades ao ator: um típico rockeiro dos anos 80. Na narrativa, Aurélio é filmado ao defender Matheus, um menino de 11 anos, que é acusado e perseguido por um policial. O PM morre durante esta perseguição, Matheus some e como consequência disso, Aurélio é perseguido, julgado e constantemente exposto nas redes sociais no decorrer de toda a narrativa.
Com referências em After Hours, de Martin Scorsese, o filme também apresenta uma noite com múltiplos acontecimentos. Enquanto a maioria dos veículos estão sendo tendenciosos, a jornalista Helena, interpretada por Dandara de Morais, está investigando o caso e busca ouvir a versão de Aurélio. Nesse encontro e vivências de uma noite, há perseguição policial, abuso de autoridade e cenas que mostram choques de realidades, a partir do encontro do protagonista com o personagem Béstia, amigo e ex-companheiro de banda do Aurélio, interpretado por Thaíde.
Nestes encontros, o longa apresenta diálogos sensíveis e repletos de símbolos e críticas sociais. Uma das frases marcantes é dita por Béstia para Aurélio: “deve ser lindo ver o mundo através dos seus olhos de branco”, mostrando para o protagonista como pessoas brancas têm privilégios, como as vivências são diferentes, e quais são os reflexos disso. Tanto que uma criança, somente pelo fato de ser negra, é julgada e acusada.
É notável a preocupação por uma equipe diversificada e que realmente tivesse propriedade para representar e falar sobre os temas transmitidos no longa, o que o enriquece ainda mais. Destaque para a direção de fotografia de Paulo Baião, que apresenta uma dicotomia que intercala entre uma câmera participativa, aproximando o espectador e fazendo com que sinta-se inserido na narrativa e entre uma ausência de refletores.
Os planos sequências também são destaques na fotografia, mantendo um ritmo que cumpre a função do gênero thriller, com uma narrativa que deixa o espectador atento do início ao fim, com sentimentos de revolta e indignação constantes. É um filme para refletir questões tão necessárias no cenário atual, como violências sociais, raciais, as influências das mídias e como agir diante de tudo isso.