Do aclamado diretor Asghar Farhadi (A Separação; O Apartamento) ganhador do primeiro Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de produção Iraniana. Em Um Herói não foi diferente, o longa escrito e dirigido por Asghar levou para casa dois prêmios no Festival de Cannes, o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio François Chalais. E pode ser o filme representante do Irã de Melhor Filme Internacional no Oscar 2022, estando na pré-lista para a premiação.

Acompanhamos a história de Rahim (Amir Jadidi), ele está preso faz três anos por não conseguir pagar uma dívida contra seu antigo cunhado, Bahram (Mohsen Tanabandeh), após fazer um empréstimo para iniciar um negócio e ser roubado pelo seu sócio. Durante uma condicional de dois dias, ele tenta convencer seu credor a retirar a queixa, caso consiga pagar parte do que deve e arrumar um emprego para pagar o restante.

Rahim possui uma namorada secreta, Farkhondeh (Sahar Goldust) que está tentando ajudá-lo a conseguir pagar a dívida. Coincidentemente, Farkhondeh encontra uma bolsa com 17 moedas de ouro durante a licença de dois dias em liberdade do namorado. No primeiro momento, ambos pensam em vende-las, porém após orçar e ver que não conseguiriam o dinheiro necessário, Rahim, indo contra os desejos da amada e a favor da sua própria consciência, decide procurar a verdadeira dona da bolsa para devolvê-la.

A atitude acaba sendo descoberta pelo chefe da penitenciaria onde Rahim cumpre pena, que decide em divulgar na imprensa a história – atitude visando reforçar uma visão positiva da penitenciária. Resultando na fama momentânea, adoração e apoio ao mesmo tempo em que há dúvidas e boatos.

© 2021 ARTE France Cinéma − All right reserved.

A narrativa desse desenrolar passa a envolver toda a família de Rahim, principalmente seu filho que sofre com gagueira. Os pais de Farkhondeh, apesar de aparecerem pouco, exercem papéis importantes na trama. São dilemas morais que envolvem toda a vida de Rahim, desde o golpe que levou do seu ex-sócio, o papel de seu ex-cunhado angariador, seu cunhado – namorado da sua irmã – que tenta o ajudar mesmo sem garantias, seu filho gago que sofre bullying no colégio, sua irmã que quer ajudá-lo ao mesmo tempo que não quer se envolver em mais confusão, sua namorada e os pais dela.

Somos apresentados a esses personagens, todos com suas motivações, angústias e frustrações que são perceptíveis ao longo da trama. Os dilemas morais se entrelaçam na medida que histórias e mentiras são contadas, que dúvidas e inseguranças surgem, há causalidade ambivalente em toda situação que se sucede – como por exemplo quando Rahim tenta uma vaga de emprego e duvidam da sua história, essa até o momento sem provas. Quem estaria certo? Ou quando seu filho gago depõe em favor do pai, Rahim está usando o filho para tentar comover a todos ou por que realmente é a verdade?

© 2021 ARTE France Cinéma − All right reserved.

É essa a narrativa que te prende do início ao fim e torna situações simples ambivalentes, fazendo o telespectador se indagar sobre quais seriam as reais intenções por trás, na tentativa de encontrar um erro ou culpados – e será que sempre possuem?

A dor de Rahim por estar preso, se mistura com o orgulho de ter sido homenageado com uma placa por sua atitude honrosa; a angústia no meio de mentiras, reviravoltas, incertezas e humilhações e no meio de tudo isso ainda se encontra um pouco de esperança, de conseguir finalmente se ver livre da cadeia, restaurar o orgulho da família, vivendo ao lado do seu filho e sua namorada. Tudo isso vivendo em um bairro pobre, com um sistema corrupto e capitalista, regado de costumes morais distorcidos que são válidos apenas para quem os prega.

Nesse meio, como se tornar Um Herói?