Overview
Pauline acaba de herdar uma casa de sua tia e então decide morar lá com suas duas filhas, Beth e Vera. Mas, logo na primeira noite, o lugar é atacado por violentos invasores e Pauline faz de tudo para proteger as crianças. Dezasseis anos depois, as meninas, agora já crescidas, voltam para a casa e se deparam com coisas estranhas.
Após dez anos do seu polêmico filme Mártines, divisor de opiniões entre o publico, o cineasta francês Pascal Laugier tenta – mais uma vez – re(i)novar. Dessa vez, o diretor assume uma nova forma de representar o terror e suspense vivenciados nas telonas, movimento arriscado quando o público está acostumado com terrores genéricos e carregados de jumpscare. Apenas um dos últimos terrores lançados nos cinemas, Sobrenatural: A Ultima Chave, segue a linha de A Casa do Medo: Incidente em Ghostland, sendo muito mais psicológico. A diferença é que o ultimo é totalmente realista.
A história é bem conhecida – principalmente para os fãs de séries de investigação policial como Criminal Minds –, Pauline (Mylène Farmer) mãe solteira de suas duas filhas, Beth (Emilia Jones e Crystal Reed) e Vera (Taylor Hickson e Anastasia Phillips) herda uma mansão de sua tia, logo, a família decide ir morar no local. Como típico filme de terror, a ambientação é clichê, como a própria mansão assustadora sem vizinhanças próximos, decorações bizarras, e jogos de luz carregados de sombra. Ao chegar na cidade, elas se deparam com uma história local, onde, sequestradores invadem a casa de famílias com crianças adolescentes, e os torturam dentro da própria casa. Beth, que sempre se interessou por histórias de terror e sonha em ser escritora do gênero, logo se interessa pela noticia. E, bom, a noticia não é apenas notícia – a família é atacada na primeira semana.

© Paris Filmes − All right reserved.
Ao longo do filme, o telespectador vai se ambientando gradativamente com o enredo, este que inicialmente se demonstra confuso, refleto de mistérios e reviravoltas. O publico acompanha a história principalmente sob o olhar de Beth, a filha casula, personagem introvertida, curiosa e muito crítica. Ambas as atrizes que a interpretam, tanto em sua fase jovem (Jones) quanto em sua fase adulta (Reed) fazem um excelente trabalho retratando a jovem. Pelo roteiro ser focado em sua forma de lidar com os acontecimentos, as atuações das atrizes são muito reagentes, a trazendo para mais perto do publico ao retratar a fundo seus medos, anseios e dificuldades em ser resiliente. Já Vera é um dos destaques do filme, a atuação de ambas suas interpretes são vivas, sentidas, pesadas. A personagem exige muita linguagem corporal, expressões físicas e resistência. O desempenho das quatro atrizes principais são tão destacáveis que constantemente faz o publico se indagar sobre a realidade das cenas vivenciais, e é apenas após o terceiro ato do filme que o telespectador consegue se situar.
Como elaborar um cenário tão real, brutal e amendrontador sem criar mecanismos de defesa próprios dificultam o elaboramento da vivência enquanto ela ainda acontece? Como lidar com nossos medos internos? Quais mecanismos de defesa criamos para nos auxiliar nesse processo? Reforçamo-os negativamente? Queremos fugir ou nos esquivar de algo aversivo para nós? Ao querer nos esquivar de uma vivência tão carregada emocionalmente, e funcionar, sem realmente tomar consciência da situação e elabora-la, muito provavelmente o comportamento será mantido e a frequência aumentará – se funcionou uma vez, vou querer usar mais vezes. E é esse o dilema que as protagonistas assumem. Mas como sair dele? Como carregar o pesado emocional dessas vivências?

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Mesmo em situações inumanas, Beth e Vera representam suas forças na imagem uma da outra – nenhuma das duas quer ver sua irmã sofrendo – e é pela persistência, amor e altruísmo que o filme retrata o desenvolvimento de duas protagonistas fortes, desfocando do horror vivênciado por ambas. Os vilões são o contra posto, totalmente genéricos, funcionam apenas como estereótipos caricatos de personagens sem desenvolvimento, motivações ou humanidade – apesar de ser inegável a presença de deficiência intelectual severa. Os vilões são os que mais precisam de ajuda no filme.
Demonstrando as consequências de um episódio traumático e a importância de cuidarmos da nossa saúde mental, A Casa do Medo: Incidente em Ghostland investe muito mais na ambientação, maquiagem cinematográfica e atuação, porém peca no desenvolvimento de seus personagens – conhecemos mais a fundo apenas Beth. Com violências nítidas a menores de idade, o filme se torna pesado e difícil de digerir – temas como agressão, tortura, molestamento, micção urinária, etc, compõem o longa.

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Para terem uma ideia da realidade da violência, a interprete da personagem de Vera criança (Hickson) feriu-se gravemente durante as filmagens, ficando com o rosto desfigurado. A atriz ‘ganhou’ uma cicatriz permanente de 70 pontos no rosto, afetando sua auto estima e fazendo-a recusar diversos papeis. O próprio diretor pediu para que Taylor batesse com força sua cabeça na porta de vidro, mesmo após a atriz mirim ter questionado a ordem do cineasta, a produção se certificou que não haveria problema em fazer a cena – porém, estavam errados. Sim, por via de conhecimento, a produção está respondendo processo.
Pesado e muito polêmico, A Casa do Medo: Incidente em Ghostland trás uma nova visão – necessária – para o gênero, mesmo que mantendo as características polêmicas e divisoras de opiniões do diretor.